Ansiedade. Tá aí uma palavrinha que parece que todo mundo conhece, não é mesmo? Mas será que conhece de verdade? Fato é que todos os seres humanos são dotados de ansiedade em maior ou menor grau e ela não precisa ser vista como nossa inimiga não.
Até certo ponto a ansiedade impulsiona para o desenvolvimento, para realização de projetos, planejamentos, entre outros movimentos necessários para a vida humana. Ah, mas então a ansiedade não é um problema? Nem sempre. O que vai falar sobre a qualidade da ansiedade é sua intensidade. O problema é quando a ansiedade paralisa ao invés de movimentar ou ainda, quando ela nos movimenta excessivamente, a ponto de não ser possível relaxar.
Vale ressaltar que, embora, na literatura, ansiedade, angústia e medo, sejam frequentemente apresentados como sinônimos existem diferenças importantes entre os três termos. Segundo Dalgalarrondo, um dos principais autores sobre psicopatologias, a ansiedade é um
estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispneia ou desconforto respiratório, taquicardia, vasoconstrição ou vasodilatação, tensão muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura etc.) e manifestações psíquicas (inquietação interna, apreensão desagradável, desconforto mental, expectativa ruim em relação ao futuro etc.) (Dalgalarrondo, 2019, p. 305)
Já o termo “angústia” fala sobre aquela sensação de aperto no peito, o famoso nó na garganta, que muitas vezes aparece com a sensação de sufocamento. Ainda que possa ser parecida com a ansiedade, a angústia está mais relacionada ao passado do que ao futuro e está mais atrelada também à condição fundamental humana.
O medo, embora possa gerar ansiedade, se diferencia da ansiedade e da angústia porque em geral tem um objeto mais ou menos preciso, muito frequentemente quem está com medo, está com medo de alguma coisa específica.
Na psicologia clínica, com frequência nos deparamos com as três condições, mas, neste artigo, nos dedicaremos a falar sobre a ansiedade.
A reação de ansiedade frente à execução de uma tarefa, seja ela qual for, diante da possibilidade de ser avaliado é muito comum. A este tipo de ansiedade chamamos: ansiedade de desempenho.
Há também a reação de ansiedade que surge antes de algum evento importante, quando a pessoa se pega imaginando como ocorrerá esta situação e teme pelo desconforto que poderá vir a sentir, fantasiando sobre os acontecimentos e sofrendo antecipadamente. Este tipo de ansiedade é chamado de ansiedade antecipatória.
Notem: em ambos os casos a ansiedade pode tanto impulsionar a pessoa a fazer o seu melhor quanto paralisá-la ou ainda, fazer com que acredite que, ainda que tenha se empenhado ao máximo, o resultado nunca será suficientemente bom. É exatamente isto que vai evidenciar o grau de ansiedade de cada indivíduo e suas manifestações estarão sempre de acordo com suas próprias características, ou seja, duas pessoas com níveis similares de ansiedade não vão, necessariamente, vivenciá-la da mesma forma.
Há momentos nos quais as pessoas vão se sentir mais ansiosas do que de costume, o que não necessariamente falará sobre um transtorno, porém, a partir do momento em que o indivíduo começa a ficar tão preocupado com seu desempenho a ponto de não conseguir realizar aquilo que pretendia, começa a experimentar dificuldades para dormir e/ou prefere evitar situações cotidianas simples, como encontrar os amigos, por exemplo, a fim de desviar do desconforto imaginado, sua qualidade de vida está prejudicada e essa é a hora de procurar ajuda.
A esta altura já está evidente que a ansiedade se torna um problema quando é excessiva, certo? É aquela preocupação desproporcional, que acaba por prejudicar a fluidez e a espontaneidade do indivíduo e essa preocupação excessiva pode se manifestar de inúmeras formas, podendo levar ao desenvolvimento de síndromes ansiosas.
“No Brasil, estudos epidemiológicos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro revelaram pelo menos algum transtorno de ansiedade e/ou fobias, nos últimos 12 meses, em 18,8 a 20,8% da população e pelo menos uma vez na vida em 27,7 a 30,8%” (Andrade et al., 2012; Ribeiro et al., 2013 apud Dalgalarrondo, 2019).
As síndromes “exclusivamente” ansiosas são ordenadas a princípio em dois grandes grupos:
- quando a ansiedade é constante e permanente
- quando a ansiedade se manifesta por meio crises de ansiedade inesperadas que podem ser mais ou menos intensas. “São estas as chamadas crises de pânico ou de ansiedade, que podem configurar, se ocorrerem de modo repetitivo, o transtorno de pânico.” (Hollander; Simeon, 2004).
As manifestações físicas da ansiedade também são importantes para identificar o grau vivenciado pela pessoa: tonturas, coração acelerado, sensação de estar fora de si ou de que o momento presente não é real, tremores, sensação de que está prestes a perder o controle, ou de que vai morrer, suor excessivo, são alguns dos sinais corpóreos da ansiedade.
Se você chegou até aqui e sente que está mais preocupado do que deveria, que sua qualidade de vida está prejudicada ou já teve crises ansiosas, que tal procurar um profissional qualificado para te ajudar a passar por isso? Pedir ajuda nem sempre é fácil, muitas vezes achamos que procurar auxílio é sinal de fraqueza, mas, na verdade, todos precisamos de ajuda em algum momento da vida. Há momentos em que o cotidiano pode estar pesado demais para conseguirmos suportar sozinhos e, neste sentido, convido vocês a olharem para a ansiedade, não como inimiga, mas como um aviso do nosso organismo de que existe algo muito difícil de lidar se fazendo presente. A boa notícia é que há pessoas preparadas para nos auxiliarem com esta carga, nos ajudando a desenvolver recursos e fazendo o trajeto lado a lado com a gente.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2019.