O Sistema nervoso é dividido em duas funções que se amparam mutuamente, o sistema nervoso autônomo e o somático.

Aqui, nossa ênfase será ao autônomo, que é o responsável pela manutenção de nossas respostas involuntárias.

Ele se relaciona às atividades que não temos o controle consciente na maior parte do tempo. Por exemplo, independente da nossa escolha agora, continuamos respirando, certo? Quem garante isso é o sistema autônomo, que funciona a todo instante, sem que a gente precise se esforçar em direção a nossa sobrevivência enquanto ser vivo. É uma inteligência que pulsa em nós o tempo todo em direção a garantia da vida.

Provavelmente, se tivermos comido recentemente, o nosso estômago estará digerindo, sem que tenhamos que pensar sobre, assim como se surgir um perigo iminente no ambiente, também é ele quem vai engatilhar a nossa reação.

Ele é que toma as decisões rápidas, ativa emoções e pensamentos.

Atua como um registro de nossas experiências, ou seja, tudo que nos acontece, ele assimila com objetivo de se adaptar à realidade e responder de forma a garantir a maior segurança e adaptabilidade possível para nós.

De acordo com Bonnie Cohen, ele é dividido em três funções que se amparam mutuamente, que são, o sistema nervoso simpático, que prepara nosso corpo para ação, o sistema nervoso parassimpático que nos coloca em recuperação, repouso e descanso e o sistema nervoso entérico, que identifica as ameaças do ambiente e envia a informação pros outros dois.

Quando somos bebês temos algumas necessidades a atender, precisamos estar seguros no ambiente, alimentados, amparados, e sintonizados afetivamente pelos nossos vínculos.

Essas experiências primárias modulam nosso sistema nervoso que passa a perceber a realidade como segura ou não e, com isso a responder de acordo, formando o que Steven Porges nomeou de neurocepção.

Se esse ambiente forneceu um espaço seguro para esse bebê se desenvolver, ele forma um estado interno de segurança e, com isso seu organismo pode entrar em pleno funcionamento, abrindo espaço para a curiosidade, aprendizado e conexão com o mundo.

Porém, se ele não tiver um ambiente seguro, pode ficar constantemente em estado fisiológico de alerta, como se estivesse respondendo fixadamente a uma situação de perigo, sobrecarregando o organismo de estresse, ansiedade e desamparo.

O problema, veja bem, não é ligar o sistema de alerta é não desligar, não retornando a um estado de equilíbrio interno. Essa hiperativação autonômica constante forma um estado de sobrecarga fisiológica, levando ao organismo a procurar outras vias de descarga e regeneração para retomar o equilíbrio do sistema corpo e evitar o colapso.

Essa forma de buscar se proteger do ambiente perigoso pode ser adaptativa, favorecendo ao desenvolvimento saudável do sujeito, ao aprendizado e abrindo espaço para a curiosidade e conexão com a vida ou, desadaptativa, fomentando estados de defesa crônicos e desconexão, sobrecarregando algum sistema do corpo, desencadeando um processo de doença, por exemplo, ou adotando comportamentos não potencializadores e incoerentes com a vida.

Por isso, a nossa qualidade de vínculo primário, chamado por Bowlby, de estilo de apego, é considerado um grande preditor ou não de sofrimento psíquico e transtornos mentais.

Se uma criança não consegue recursos do ambiente para se regular, terá mais dificuldades para desenvolver seus próprios recursos e pode constantemente se sobrecarregar de estresse e ansiedade, o que por se tratar de uma experiência de dor e desprazer, pode buscar caminhos de alívio e segurança através de compulsões alimentares, drogas, álcool e relacionamentos abusivos, por exemplo.

Não, não somos fadados a isso para sempre. A infância tem sim grande importância no desenvolvimento por ser uma grande janela de plasticidade do sistema, ou seja, de capacidade do sistema se moldar conforme as experiências.

Entretanto, temos essa capacidade ao longo de toda a nossa vida, podemos influenciar no nosso sistema nervoso a partir do momento em que obtemos algum conhecimento sobre como ele funciona.

 Por isso, conhecer nosso corpo não se trata apenas de anatomia e curiosidade, mas de um caminho de cuidado, regulação e autonomia.

Por exemplo, quando estamos conscientes da nossa respiração, podemos influenciar em seu ritmo e com isso, dar um feedback de segurança pro nosso sistema nervoso. É como uma forma de afinar um instrumento, quanto mais fizermos, mais detalhes dessa experiência iremos perceber e com isso, mais afinados ficamos.

Quando estamos sobrecarregados de estresse e entendemos que ao invés de comer um bolo inteiro podemos sair para caminhar, contribuímos para nossa autorregulação de uma maneira mais alinhada com o que realmente desejamos.

Conforme elevamos a autoconsciência, mais aptos estamos a nos relacionar com nosso sistema nervoso, e mais livre arbítrio para escolher atividades que o ajudem a recuperar o equilíbrio do organismo, ou pelo menos, suavizar o desequilíbrio, a isso chamamos de recursos externos.

A partir da percepção da ativação autonômica que estamos experimentando, podemos direcionar as nossas ações a algum tipo específico de atividade, respondendo, ao invés de apenas reagir àquela sensação.

Os medicamentos psiquiátricos atuam basicamente nisso, na busca de afinar o sistema nervoso para que possamos estar no mundo encorados num estado fisiológico de maior segurança, prazer, lucidez e calma, favorecendo assim a conexão com nosso propósito de vida, pessoas e desenvolvimento pessoal.

Nem sempre os remédios são necessários, porém casos mais agudos de desregulação podem precisar da associação de medicamentos e psicoterapia, além das escolhas de atividades mais conscientes às necessidades do nosso sistema nervoso.

Portanto, podemos afirmar aqui, a importância do sistema nervoso para experimentarmos um real estado de saúde, que não se trata apenas, de ausência de doenças, e de sofrimento psíquico, mas de qualidade de vida, vitalidade e prazer na existência.

Vamos cuidar disso?

BOWLBY, John. Apego: Apego e perda. 1 edição. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

COHEN, Bonnie. Sentir, perceber e agir. São Paulo: Edições Sesc, 2015.

PORGES, Stephen. The pocket guide to The Polivagal Theory: The Transformative Power of feeling safe. W. W. Norton & Company, 2017.

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Formada em Hatha Yoga e estudante de Educação do Movimento Somático.

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Thayana Pastori

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Residência em Psicologia da Saúde; Temática: processos de adoecimento e o cuidado em saúde.

Pós graduada em Psicologia Clínica; Temática: psicanálise e contemporaneidade.

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