O transtorno bipolar é uma patologia crônica e complexa, que pode se manifestar de maneiras diferentes em cada indivíduo, sem que exista uma estabilidade. O que se torna evidente na observação de “sintomas flutuantes e muitas vezes inversos” (Tung, 2007 apud Bloc e Moreira, 2002). Trata-se de um transtorno que se manifesta primordialmente por oscilações intensas no humor do indivíduo, que pode ir da depressão à mania (estado de euforia). Existem alguns tipos de transtorno bipolar, caracterizados pelas particularidades das manifestações das oscilações do humor. Algumas pessoas com este transtorno experimentam ciclos de mania mais duradouros e frequentes do que os de depressão, outras vivenciam o exato oposto e há aquelas que são acometidas pela depressão e hipomania (estado de euforia menos intenso) de maneira persistente.
Uma pessoa em mania se sente mais no momento atual, no agora, como se não fizesse contato com o que passou ou aquilo que está por vir. Desta forma pode demandar menor tempo de sono, menos apetite, maior impulsividade e sociabilidade e em alguns casos apresentar ideias delirantes, alucinações, delírios de grandeza e paranoia. É muito comum que a pessoa em mania se sinta invencível e não consiga se dar conta das possíveis consequências de seus atos. Um exemplo simples é quando a pessoa compra compulsivamente, sem se preocupar com o gasto mesmo não tendo como arcar com o custo, como se fosse haver uma solução mágica para todos os problemas que porventura pudessem surgir.
Martins (2003 apud Bloc e Moreira, 2002) à luz das ideias de Binswanger sobre bipolaridade afirma em uma síntese “que o melancólico e o maníaco vivem em um presente eterno. Na melancolia, sem se livrar do peso e da dor da existência, sem fluir numa temporalidade própria do humano. Na mania, um sujeito que se lança sempre aberto a possibilidades futuras, perdendo a capacidade retentiva e sem constituir-se historicamente”
Há então um grande sofrimento devido à essa vivência temporal na qual a ligação entre o passado, presente e futuro se encontra comprometida. Na clínica é possível dar-se conta da complexidade desta patologia, uma vez que o clínico estará diante da não linearidade de duas fases clínicas que, em um primeiro momento, podem ser consideradas opostas, mas que ao olhar mais atentamente, poderá perceber que estão ligadas a ponto de dizerem muito uma sobre a outra.
O diagnóstico de bipolaridade pode ser bastante demorado devido à complexidade desta patologia, porém, é muito importante destacar que um diagnóstico não resume (ou pelo menos não deveria resumir) a existência de qualquer indivíduo a um rótulo.
Caso você tenha chegado até aqui e tenha se identificado com o que leu, não hesite em procurar ajuda de profissionais qualificados para te acompanhar em seu processo. Você pode e deve ser acolhido em sua forma de ser e estar no mundo e, como sempre falamos aqui, todos nós podemos precisar de ajuda para entender nossas potências e limites. É muito importante lembrar que as pessoas que convivem com pessoas com transtorno bipolar também devem buscar se educar.
Moreira, V., & Bloc, L. (2012). Fenomenologia do tempo vivido no transtorno bipolar. Psicologia: Teoria E Pesquisa, 28(4), 443–450. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/view/17582
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2019.