A depressão é uma condição muito falada, mas pouco conhecida. Em geral quando alguém fala em depressão está, na verdade, falando sobre tristeza. Embora uma pessoa deprimida possa estar triste e não é exatamente a tristeza que vai configurar um quadro depressivo.
A tristeza é um sentimento natural humano, sendo uma de nossas emoções básicas como nojo, raiva, medo, alegria, surpresa e desprezo. Todos nós em alguns momentos vamos nos sentir tristes, mas nem todo mundo, enfrentará um quadro de depressão.
A depressão é um transtorno do humor que se caracteriza por alterações do humor geralmente acompanhadas de sintomas cognitivos, comportamentais e físicos. Muito frequentemente os sentimentos de tristeza exacerbada, vazio e desesperança estão presentes, porém, algumas pessoas podem experimentar ansiedade, irritabilidade e preocupação frequentes, bem como a perda do prazer e da vontade de realizar suas atividades habituais. Alterações do sono também são muito comuns e podem se manifestar por meio da insônia (não conseguir dormir, ou ter o sono interrompido acordando durante a noite ou horas antes do necessário) ou pelo aumento do sono, necessidade de dormir mais, sono constante, sensação de cansaço ao acordar etc.
O apetite também pode sofrer mudanças incidindo em ganho ou perda significativa de peso em um curto espaço de tempo. Estes são alguns dos sinais que uma pessoa deprimida pode manifestar, mas é sempre importante lembrar que cada pessoa vai experimentar a depressão de forma subjetiva e que existe mais de um tipo de depressão, tais como:
- Episódio de depressão e transtorno depressivo maior recorrente (CID-11 e DSM-5)
- Transtorno depressivo persistente e transtorno distímico (CID-11 e DSM-5)
- Depressão atípica (DSM-5)
- Depressão tipo melancólica ou endógena (CID-11 e DSM-5)
- Depressão psicótica (CID-11 e DSM-5)
- Estupor depressivo ou depressão catatônica (DSM-5)
- Depressão ansiosa ou com sintomas ansiosos proeminentes (CID-11 e DSM5) e transtorno misto de depressão e ansiedade (CID-11)
- Depressão unipolar ou depressão bipolar
- Depressão como transtorno disfórico pré-menstrual (CID-11 e DSM-5)
- Depressão mista (DSM-5)
- Depressão secundária ou transtorno depressivo devido a condição médica (incluindo aqui o transtorno depressivo induzido por substância ou medicamento) (CID-11 e DSM-5)
(Fonte: Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Paulo Dalgalarrondo. 2019)
Sendo assim, no que diz respeito à depressão há diversas formas de manifestá-la e em todos os casos é importante procurar um especialista para que o diagnóstico correto possa ser realizado, tornando possível o tratamento correto para casa caso.
Muitas vezes os familiares e amigos da pessoa em depressão enxergam seu comportamento como preguiçoso ou antipático, quando na verdade a pessoa não consegue manter suas relações e rotina e não raro, se sente culpada por isso. Não é incomum que a pessoa em depressão desenvolva o sentimento de baixa autoestima, sentindo-se desagradável e indesejada mesmo que esta percepção não esteja adequada a realidade.
O pessimismo, a ruminação de mágoas antigas, o tédio, o desejo de morte, de desaparecimento aparecem no discurso da pessoa em depressão, o indivíduo muitas vezes passa a se sentir insuficiente e, nos casos mais graves, pode sentir-se tão incapaz que sequer se levanta da cama. É como se sua existência perdesse o sentido e não tivesse mais motivos para viver. Na clínica psicológica também é muito comum que os clientes em quadros depressivos se queixem de dificuldade para tomar decisões, diminuição ou perda da concentração e de problemas com a memória.
O que causa a depressão?
O desencadeamento de um quadro depressivo envolve diversos elementos, tanto genéticos, biológicos e neuroquímicos, quanto sociais e psíquicos e o gatilho é, muitas vezes, existencial. Segundo Dalgalarrondo (2019) “as síndromes e as reações depressivas surgem com muita frequência após perdas significativas: de pessoa muito querida, emprego, moradia, status socioeconômico ou algo puramente simbólico.”
É fundamental destacar que, ainda que as perdas possam ser um gatilho significativo para os quadros depressivos, é importante, embora nem sempre fácil, diferenciar o sentimento normal de luto da depressão.
Como lidar com a depressão?
Bom, a depressão é uma condição que diminui a vontade do indivíduo, podendo levar a apatia e indiferença severas. Por isso, não é fácil para a pessoa em um quadro depressivo pedir ajuda. A falta de informação sobre saúde mental e transtornos psicológicos torna ainda mais difícil este processo, pois muitas vezes a própria pessoa acaba acreditando se tratar de incompetência ou preguiça, deslegitimando sua própria dor.
A depressão é uma patologia que pode, dependendo do grau, ser incapacitante, levando a uma perda expressiva da qualidade de vida do indivíduo que passa a perceber até as tarefas consideradas mais simples como grandes desafios. E de fato, naquele momento, são. Por isso é muito importante que a pessoa deprimida possa contar com uma rede de apoio que busque se educar em relação ao que está acontecendo e auxilie a pessoa deprimida a procurar especialistas.
Nos casos mais graves o tratamento medicamentoso se torna indispensável, pois é necessária a regulação neuroquímica até mesmo para que o tratamento psicoterápico seja viabilizado. Geralmente psicóloga e psiquiatra trabalharão em conjunto, portanto, ao procurar um psiquiatra este indicará a psicoterapia como parte do tratamento e o psicólogo também poderá sinalizar a necessidade de tratamento psiquiátrico.
O tratamento psiquiátrico ainda é tabu para muitas pessoas, frequentemente nos deparamos com pessoas que acreditam que apenas pessoas “loucas” vão ao psiquiatra ou tomam remédios psiquiátricos, mas não é bem assim. Na verdade, o cérebro da pessoa deprimida pode sofrer alterações neuroquímicas que, nos quadros mais graves de depressão, só podem ser revertidas por meio do uso dos adequado destes medicamentos.
Por outro lado, há pessoas que tomam antidepressivos e/ou ansiolíticos prescritos por médicos de outras especialidades e desviam do cuidado com sua saúde mental. Os medicamentos referentes aos transtornos mentais devem sempre ser prescritos exclusivamente por psiquiatras, a fim de regular a química cerebral e viabilizar o tratamento psicológico que deve acontecer conjuntamente.
O trabalho da psicóloga nos quadros de depressão é o de compreender o que pode ter levado a pessoa a desenvolver tal quadro. Seu contexto, seus hábitos, suas crenças, suas relações, tudo isto é visto durante as sessões a fim de tratar a causa da depressão, compreender o que desencadeou o quadro e auxiliar a pessoa na recuperação de sua qualidade de vida e do contato com suas emoções e com seu sentido de vida.
Quando não há rede ou disponibilidade por parte daqueles que cercam a pessoa depressiva o primeiro passo pode ser um pouco mais complicado, mas ainda assim, possível.
Se você chegou até aqui e se identificou com alguns dos sinais descritos, se você se sente muito triste, há muito tempo. Se as atividades diárias têm sido um grande desafio para você, não hesite em procurar ajuda. Lembre-se: os profissionais da saúde mental têm o compromisso de não fazer juízo de valores, portanto, este pode ser um ambiente seguro para que você compartilhe suas dores e seus medos. Caso você conheça alguém que esteja passando por isso, você pode auxiliar indicando profissionais ou, caso não disponha dos recursos financeiros necessários redes de assistência à saúde mental como é o caso dos CAPS, ou coletivos de saúde mental com profissionais qualificados. Não cobre, nem pressione esta pessoa como se fosse uma escolha deliberada estar em depressão, não é.
Se você que está lendo isso se sente deprimido fico feliz que tenha chegado até aqui, pois este é um sinal de que você quer procurar ajuda, acredite, existem muitas pessoas capazes de te auxiliar e a vida pode voltar a ter cor, sabor e prazer.
GRAEFF, G. F. e HETEM, B. L. A. Transtornos de Ansiedade. São Paulo: Atheneu, 2004.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2019.