Há algum tempo sabemos que seres humanos são seres gregários, isto é, seres que se agrupam com outros de sua espécie e precisam disso para sobreviver, portanto, é esperado que dificuldades para se relacionar traga sofrimento às pessoas. Não fomos feitos para viver sozinhos, precisamos uns dos outros desde o nascimento e os movimentos individualizantes da modernidade nos fazem acreditar que deveríamos ser autossuficientes e independentes, quando na realidade a cooperação é o meio mais saudável para a convivência humana.
Conviver é uma arte. Quando conhecemos alguém nos deparamos com um universo inteiro de possibilidades e, embora possa ser esquecido ao longo do tempo, o mesmo acontece com pessoas que convivemos há muito tempo. Cada um tem suas expectativas, crenças, sonhos, objetivos e, muitas vezes, nos oferecem um papel dentro de sua existência e nós fazemos o mesmo em retribuição. O que ocorre é que dentro desses papéis que atribuímos e nos são atribuídos existem inúmeros elementos desconhecidos e que são evocados sem que nos demos conta. É o caso quando acreditamos, por exemplo, que nossas mães, no papel de mães, deveriam nos amar, ser doces e acolhedoras o tempo todo. O mesmo quando um pai espera que seu filho ou filha aja como ele agiria em determinadas situações e se frustra ao se deparar com uma realidade diferente daquela que ele gostaria. A partir daí nascem os conflitos e as dificuldades nos relacionamentos.
Qual é o papel de cada pessoa em nossas vidas? Quais responsabilidades depositamos no outro? Quais expectativas? Quando nos deparamos com a frustração de não recebermos aquilo que esperávamos, nos deparamos com uma realidade inesperada: o outro não é como nós pensávamos. Daí sentimos raiva, nos sentimos traídos, enganados, mas será mesmo que o outro disse para nós que seria daquela maneira? Será que nós conseguimos estar sempre de acordo com o que o outro espera da gente? Difícil, não é mesmo?
O medo de não atender às expectativas alheias é um problema recorrente na clínica. E há uma armadilha aí: às vezes a expectativa que achamos que o outro tem sobre nós é, na verdade, uma fantasia. Então pode ser que ao passarmos a vida tentando agradar e fazer o que pensamos que os outros gostariam que fizéssemos, não agrademos nem ao outro, nem a nós mesmos.
Nós nos construímos a partir do outro e do nosso ambiente, a cultura, sociedade, nossa família, todos esses elementos vão fazer parte de quem somos e é a partir de nós que nos relacionamos com o outro. Conflitos são parte natural das relações, nem sempre estamos disponíveis ou podemos atender às expectativas lançadas sobre nós e o contrário também é verdade. Mas quando deixamos de confiar, evitamos novas relações, nos isolamos de todos por não acreditar que podemos ter bons relacionamentos ou que somos dignos de amor, é importante parar para pensar se não é hora de procurar ajuda. A timidez, a introspecção, o medo de julgamento e até mesmo a ausência de vontade de contato com outras pessoas são naturais e podem ser saudáveis até certo ponto.
Importante lembrar também que, atualmente, com as redes sociais e outras redes de relacionamento as relações interpessoais ganharam nova forma: é possível conhecer pessoas de todo o mundo sem precisar sair de casa para isso. E, mais: nesse contexto é possível escolher qual parte de nós gostaríamos que o outro conhecesse. O que não acontece nas relações nas quais ambas as partes estão presentes fisicamente. Desta forma, muitas pessoas têm apresentado maiores dificuldades nos relacionamentos interpessoais do dia-a-dia, pois se sentem inseguras e vulneráveis diante da possibilidade de se expor a outros indivíduos. Tentando frequentemente manter o controle das relações e apresentando altos níveis de ansiedade ao se depararem com a impossibilidade.
Quando procurar ajuda?
A partir do momento que todo e qualquer contato, com quem quer que seja, nos soa como ameaça, nos despertando desconforto e/ou medo; ou que esse desconforto começa a impedir a realização de atividades importantes, ou ainda quando os conflitos são constantes, é hora de buscar ajuda especializada. Uma psicóloga pode ajudar muito na compreensão das formas a partir das quais você se relaciona e auxiliar na compreensão das dinâmicas relacionais estabelecidas. Além de ser também uma forma de experienciar outro tipo de relação, sem julgamentos, com escuta atenta e intervenções importantíssimas para o autoconhecimento.