Racismo estrutural é um termo que tem se popularizado nos últimos anos, o debate sobre as relações raciais no Brasil vem ganhando força desde a época das cotas, porém, na grande maioria das vezes o foco da discussão está na população negra, como se a branquitude pudesse se isentar do debate. Não podemos. Quando falamos em algo que é estrutural, estamos falando de algo que está na base de nossa sociedade, portanto, está entranhado nos mais diversos espaços, muitas vezes operando silenciosamente nas relações, afetando a todos, de maneiras diferentes.
O termo branquitude, segundo estudiosos do tema, fala principalmente sobre um local de privilégio da população branca, que, historicamente, atribui a si mesma a condição de ser humano universal, isto é, como norma. O racismo tem origem na busca pela manutenção desses privilégios, que se apresentam tanto simbólica quanto materialmente. A dificuldade apresentada pela branquitude em reconhecer este privilégio estrutural, bem como o próprio racismo, dificulta tremendamente a mudança que poderia se desenvolver a partir desse dar-se conta. Até porque, como afirma Cardoso (2010 apud Carvalho 2019), o brasileiro tem vergonha de nomear seus preconceitos e detesta se perceber como ator de discriminações raciais. Por isso tendemos a acreditar em um racismo que não tem começo, nem atores, ou ainda, no mito da democracia racial, que ignora a realidade e auxilia na manutenção dos privilégios da branquitude.
É importante destacar que o conceito de raça não é biológico, mas sim social. E, no Brasil, o que determina a “raça” da pessoa é a aparência, não a origem. Há ainda uma forte tendência em fazer uso de uma ancestralidade distante como um meio de tentar se isentar do racismo. Desviando do óbvio para evitar o desconforto de aceitar que quem é lido como branco no Brasil usufrui inevitavelmente de inúmeros privilégios, tanto de cunho material quanto simbólico, enquanto as pessoas não-brancas são invisibilizadas, discriminadas e subjugadas.
O desconforto em falar sobre racismo e relações raciais é muito frequente, principalmente quando o enfoque da discussão é voltado para a responsabilidade das pessoas brancas no que diz respeito a este fenômeno. Porém, aquilo que incomoda mobiliza algo dentro de nós, por isso é tão importante que possamos dar vazão a este desconforto e tentar entender o que está motivando esse mal-estar. Segundo Guerreiro Ramos – teórico pioneiro sobre Branquitude no Brasil – este é um sintoma da Patologia Social do Branco. Isto porque nos tem sido ensinado ao longo da história que tudo aquilo que é branco é melhor, é o comum, é a meta e isso não se dá em vão, mas sim, na tentativa (muito bem-sucedida) de manter os privilégios deste grupo. A boa notícia é que se o racismo é um aprendizado, podemos desconstruí-lo e aprender de outras formas, mas para isso a disponibilidade é essencial.
É muito importante lembrar que o racismo se manifesta de diversas formas e muitas delas foram naturalizadas pela branquitude. A Drª Lia Vainer Schucman sugere um exercício muito pertinente para que possamos entender como o racismo opera: imagine que você tem que ir a um consultório médico e pense na pessoa que vai te atender. Na maioria dos casos ao pensar em médicos as pessoas pensam em indivíduos brancos, isto porque aprendemos por meio da educação, da mídia, etc. que lugares considerados de sucesso são inerentes à branquitude. Para que essa transformação possa ocorrer é indispensável se permitir observar o quanto as disparidades sociais se impõem nas relações raciais e vivenciar os desconfortos que isto trará, reconhecer nossos privilégios e fazer uso dele para modificar a realidade. A responsabilidade do racismo é da branquitude, portanto, está na hora de fazermos nossa parte na construção da sociedade que queremos, não é mesmo?
Se interessou e quer saber mais? São muitos os autores que falam com propriedade sobre o tema. Abaixo listo alguns nomes importantes:
Abdias do Nascimento
Carla Akotirene
Carlos Hasenbalg
Lélia Gonzales
Lia Vainer Schucman
Lourenço Cardoso
Maria Aparecida Bento
Maria Carolina de Jesus
Sueli Carneiro